UERJ tem participação inédita em relatório internacional que alerta sobre mudanças climáticas e ação do homem.
Foto: Bruma Martins |
O Sexto Relatório de Análise (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado em agosto, trouxe dados alarmantes sobre a influência do ser humano na Terra, indicando possível colapso climático.
O documento é resultado de um grande esforço colaborativo para a coleta de dados com a participação de centenas de cientistas de todo o mundo, dentre eles a professora Leticia Cotrim da Cunha, da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que atuou como autora líder (lead author) do capítulo cinco, no seleto time de sete pesquisadores brasileiros envolvidos neste relatório.
Professora Leticia Cotrim - Foto: divulgação. |
De acordo com o documento, se a emissão de gases de efeito estufa não for reduzida, a marca de 2 graus Celsius de aumento da temperatura média do planeta será atingida ainda neste século, trazendo consequências graves como acidificação dos oceanos, elevação do nível do mar, aumento das ondas de calor, estiagens mais longas e invernos mais curtos, entre outras.
O trabalho envolveu 234 autores principais, além de mais 517 colaboradores, de 66 países diferentes. O IPCC avalia o que está publicado na literatura científica e submete o conteúdo a uma revisão mundial. Cada capítulo possui autores-líderes responsáveis por realizar esse exercício de análise. “Os últimos três anos, que envolveram a preparação deste relatório (o sexto, em ciclos que duram de sete a oito anos), foram muito intensos. Avaliamos uma bibliografia com mais de 14 mil artigos para mostrar o que mudou no clima desde 2013, quando foi lançado o 5º relatório (AR5), o que ainda vai mudar, como e por quê”, explica Leticia Cotrim.
Em relação aos relatórios climáticos anteriores, o novo AR se diferencia ao trazer dados conclusivos sobre a inequívoca influência humana no aquecimento global e mudança do clima na Terra com as emissões dos gases de efeito estufa, baseados nas múltiplas linhas de evidência: observações, modelagem numérica e estudos paleoclimáticos. O período de 1850-1900, compreendendo a era pré-industrial, é tido como base para definir a temperatura natural terrestre. A partir desse marco, o relatório analisa e oferece dados que definem a urgência em se estabilizar o aumento médio da temperatura do planeta. Leticia Cotrim destaca que, para haver mudança, “é necessário reduzir forte e rapidamente as emissões de todos os gases de efeito estufa”. Ainda assim, segundo ela, os resultados só seriam sentidos em 20 a 30 anos.
Desde o lançamento da primeira análise do IPCC, em 1990, cientistas têm demonstrado e alertado que o caminho para se evitar o aumento do aquecimento global e as consequentes mudanças climáticas é a diminuição das emissões de CO2 (gás carbônico) e outros gases. No entanto, mesmo se todos os países aderirem imediatamente a políticas mais intensas nesse sentido, “algumas mudanças no clima já são irreversíveis no sistema terrestre, especialmente em relação ao aumento do nível do mar (incluindo a perda de geleiras) e à acidificação dos oceanos”, alerta a pesquisadora da Uerj.
Ao longo dos três anos de preparação do relatório, houve reuniões presenciais de duração de uma semana – em junho de 2018, na China; janeiro de 2019, no Canadá; e agosto de 2019, na França. Por conta da pandemia de Covid-19, a reunião de julho de 2020 aconteceu de modo virtual. Durante esse tempo, foram lançadas três versões do texto, sendo duas revisadas por cientistas e uma revisada por representantes dos governos signatários. A versão final foi aprovada em plenário no mês de julho e divulgada em agosto.
Impactos do Aquecimento Global.
A pesquisadora Leticia Cotrim integrou o grupo de autores-líderes do Capítulo 5, que abordou os ciclos do carbono e outros ciclos biogeoquímicos. Foram analisados os três principais gases de efeito estufa – gás carbônico, metano e óxido nitroso – e seus aspectos em áreas continentais e oceânicas. A professora da Faculdade de Oceanografia ficou responsável pelos dados sobre o ciclo do carbono e nitrogênio no oceano.
De acordo com Cotrim, mesmo com a atual temperatura de pouco mais de 1 grau Celsius acima da média em relação ao período de referência, as consequências para a América do Sul e o Brasil continental já podem ser observadas, como maior incidência de extremos de calor e aumento da precipitação na Região Sul. Os resultados também indicam frequência duas vezes maior de período de estiagem e três vezes maior de extremos de temperatura decenais.
“Em cenários onde a temperatura alcança 4 graus Celsius acima da média, os eventos extremos podem ocorrer com muito mais frequência, chegando a quase 10 vezes mais extremos decenais de temperatura”, completa a professora. “Caso cheguemos a esse estágio, os efeitos serão graves e irreversíveis. Países como o Brasil, com grande concentração populacional em zonas costeiras, irão sofrer, além de tudo, com o aumento do nível do mar, que será capaz de varrer cidades inteiras do mapa.
Conheça o relatório e o Atlas Interativo.
O AR6 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas pode ser acessado por todos os interessados, no site em inglês https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg1/. Para contemplar os efeitos de cada região da Terra, consulte o atlas interativo.
Os dados divulgados representam o relatório do primeiro grupo de trabalho do IPCC (WG I), que analisa a mudança do clima. Em fevereiro de 2022, será conhecido o relatório com as conclusões do WG II, abordando os impactos produzidos pela mudança do clima. E por último, ainda sem data de lançamento, o WG III, que terá foco na mitigação da mudança do clima. (Por Luiz Martins)
Fonte: UERJ
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