A constante tensão do
carioca frente a violência nas últimas décadas deu lugar a outra tão letal
quanto. Em verdade, estamos diante de um fenômeno que também nos leva a
refletir sobre as lições que podemos tirar após a pandemia. Se antes a
preocupação era com a bala perdida, hoje o maior foco é quanto ao contágio de
um novo coronavírus que está matando centenas de milhares de pessoas no mundo
todo. No entanto, os números mostram que o isolamento social trouxe não só a
proteção da população contra a contaminação, mas também a queda do número de
tiroteios na Cidade, um fato que há anos não se via. Parece óbvio por um lado,
porém pode ser uma chance de avaliarmos novos caminhos que possam minimizar
mortes por balas de fogo.
Foto: Luiz Martins |
Segundo a Plataforma Fogo
Cruzado, no primeiro mês de quarentena na Cidade do Rio, o número de
tiroteios/disparos de arma de fogo na região metropolitana caiu quase pela
metade (46%), sendo registrados 460 no período entre14 de março e 13 de abril.
Ao todo, 137 pessoas foram baleadas durante a quarentena - destas, 58 morreram.
Este período coincide com o
decreto dos governos limitando a circulação de pessoas e do exercício de
atividades não essenciais como medidas para a não propagação do vírus. No
entanto, é interessante compararmos esses números com o mesmo período de 2019,
quando houve 839 tiroteios no Grande Rio, com 129 pessoas mortas e 133 feridas.
A plataforma sinalizou ainda que o isolamento social representou também uma
queda de 55% no número de mortos e 41% no número de feridos.
Foto: Luiz Martins |
Outra informação importante é a
queda de 47% na quantidade de tiroteios com a presença de agentes de segurança,
sendo 125 agora ante 236 no mesmo período do ano passado. E é nesse ponto que,
talvez, esteja a necessidade de uma atenção maior, tendo em vista que,
independente das circunstâncias, bem atípica, diga-se de passagem, os números
comprovam caminhos para uma menor ação da violência.
Foto: Luiz Martins |
Claro que em dias comuns não
podemos contar com 70% das pessoas em casa, diminuindo significativamente a
circulação nas ruas. Mas é possível imaginarmos que, pontualmente, a redução
das incursões e/ou operações policiais de caráter ostensivo pode significar a
mitigação de disparos, tiroteios e, consequentemente, vítimas de balas
perdidas.
O desafio das autoridades em
segurança pública é entender o que esse período pode nos trazer de aprendizado
para mesmo no dia a dia normalizado minimizarmos confrontos e as mortes tanto
de inocentes quanto de agentes de segurança.
(Por Marcos Espínola -Advogado e
Especialista em Segurança Pública)
Sugestão de artigo: Diana Campos
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